Jornalismo: Relações com a literatura

Jornalismo: Relações com a literatura

A Influência da literatura na linguagem jornalística

Durante o século XIX, a presença de escritores nas redações de jornais era algo recorrente. Seja nas “reportagens” da época ou na publicação de contos,
crônicas e romances como os de Manuel Antônio de Almeida, que eram publicadas
semanalmente e deram origem ao clássico “Memórias de um sargento de milícias”.

Essa participação literária no jornalismo influenciava diretamente na linguagem, na
forma como os textos eram escritos. Eles eram mais longos, poéticos e não
concorriam com a imagem: somente o fato interessava, fotos e ilustrações
ficavam em segundo plano.

Com a virada do século e a expansão do capitalismo, o modo de fazer jornalismo
mudou. Surgiram os grandes grupos editoriais e com eles veio o interesse das
empresas em divulgar seus produtos.

A publicidade, aos poucos, foi ganhando o espaço dos textos que,
consequentemente, foram ficando mais curtos. O rádio começa a crescer e
noticiar os fatos antes dos jornais. Talvez com o objetivo de oferecer um
diferencial em relação aos programas radiofônicos, os veículos impressos
passaram a valorizar mais as imagens.

Na década de 1950, a mudança se consolida: as narrativas são substituídas pela objetividade, pela clareza e pela concisão, as três características básicas da imprensa
moderna, que tem como novo objetivo vender jornais.

A partir daí, a literatura deixa de ser protagonista e passa a ser apenas
coadjuvante nas grandes publicações da época, simplesmente um suplemento,
complementa as edições.

Hoje em dia

Os suplementos dos jornais atuais dão grande destaque para as críticas literárias,
que também são consideradas por muitos como uma forma de literatura, conforme
diz Felipe Pena (Jornalismo Literário, 2006, p. 39): “O crítico produz um
discurso artístico na medida em que articula conceitos e sensibilidades. Ele
trabalha com a racionalidade, mas também utiliza a intuição. Seu principal
objetivo é buscar o motivo de existência da obra (…)”. Entretanto, alguns
ainda vão um pouco além, conforme mostra a tabela:

EXEMPLOS DE SUPLEMENTOS LITERÁRIOS

Jornal

Nome do
suplemento

Ano de
criação

Características

 

 

Folha de
S. Paulo

Mais!

1992 (até
2010)

Agrupava as
editorias de cultura, ciência e livros. Misturava resenhas, crônicas, artigos
científicos e fórum de opiniões sobre assuntos cotidianos.

 

 

Folha de
S. Paulo

Ilustríssima
(substituiu o Mais!)

2010

Assuntos
científicos, reportagens de maior fôlego, narrativa desprovida de jargões
acadêmicos. Reúne ensaios, textos de ficção, dramaturgia, poesia e
quadrinhos. Participação de artistas convidados.

 

 

 

Jornal do
Brasil

Ideias

1986

Até 2006, era
comandado pelo editor de Opinião e por apenas outros dois jornalistas.
Resenhas escritas por jornalistas e acadêmicos. Colunas informativas sobre
lançamentos, feiras literárias e acontecimentos culturais.

 

O Estado
de S. Paulo

Segundo
Caderno (não possui suplemento específico)

____

Possui uma
grande seção de livros. Apresenta crítica elaborada e refinada devido a
escolha criteriosa dos resenhistas, que têm relação com o assunto abordado.

 

 

 

O Globo

Prosa e verso

1995

É o que tem
maior relação com a literatura. Tem conteúdo semelhante ao “Ideias”. Manteve,
até 2005, colunas de Affonso Romano de Sant’Anna e Wilson Martins,
considerado o último crítico literário brasileiro.

FONTES:

PENA, Felipe. Jornalismo Literário. São Paulo:
Contexto, 2006.

OLIVEIRA, Felipe Pena. O jornalismo Literário como
gênero e conceito. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO,
29., 2006, Brasília. Anais…São Paulo: Intercom, 2006. CD-ROM

MOTTA, Luiz Gonzaga. A
Análise Pragmática da Narrativa Jornalística. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 28., 2005. Rio de Janeiro. Anais… São Paulo:
Intercom, 2005. CD-ROM.

FOLHA DE S. PAULO. Folha
lança domingo pacote de novidades. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u736654.shtml>.
Acesso em 30 abr. 2011.

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