O Estado de S. Paulo

Em uma visita à redação do jornal “O Estado de S. Paulo” no dia 18 de abril deste ano, os alunos conseguiram presenciar  como é a rotina e a organização de um jornal impresso.

A editora do caderno Viagens do jornal O Estado de São Paulo Carla Miranda, foi a guia do grupo pela redação, respondeu algumas questões e relatou a vivência de ser editora de um jornal de grande repercussão. Os estudantes fotografaram alguns materiais históricos encontrados no local, além do ambiente de trabalho.

Antigamente, os jornalistas e editores começavam a trabalhar mais cedo, pois as reportagens eram feitas pessoalmente. Atualmente, muita matéria é escrita apenas com o uso do telefone ou internet. Carla Miranda, editora do caderno Viagens, O Estado de S. Paulo.

Em torno das 19h30, é iniciado um tremor no prédio em que se localiza a redação do jornal. Carla Miranda explicou que era o início da produção do impresso daquele dia. As máquinas responsáveis pela impressão dos jornais do ‘O Estado de São Paulo’ se localizam abaixo da redação, o que proporciona um maior impacto no devido local. Só quem é, ou sonha em ser um jornalista, sente a emoção de presenciar tal acontecimento.

 

Repórter de Metrópole do Jornal ‘O Estado de S. Paulo’

Os horários são variados, temos repórteres chegando das 9 da manhã as 6 da tarde. O Repórter chega, pega sua pauta, que é uma pauta que o chefe de reportagem ou pauteiro passa para ele, ou então é uma pauta que ele próprio já tinha combinado que iria fazer, e vai para a rua. Ele pode sair com repórter fotográfico ou não. Anota o que a notícia ou acontecimento tem de mais importante e mais relevante para a população, sempre lembrando de recolher o máximo de informações e conteúdo possível. O repórter volta para a redação, e então combina com o chefe de reportagem qual será o foco daquela matéria para poder construir o lide. Tendo esse foco em mãos, é possível começar a escrever. Um repórter bom, consegue terminar a matéria por volta das 19:30 para não atrasar o fechamento do jornal, que acontece as 20:30. Antes de a matéria ser encaminhada para a versão final, ela passa pelas mãos do editor assistente, que vai ler todo o conteúdo e eventualmente corrigir erros ou informações importantes que estejam faltando. Carla Miranda, editora do caderno Viagens. O Estado de S. Paulo.

O Surgimento do jornal impresso no Brasil

As tipografias foram autorizadas a funcionar no Brasil após o ano de 1808. Nos 308 anos anteriores, a contar da chegada dos primeiros portugueses, a letra impressa era proibida na colônia, assim como as indústrias, as bibliotecas e as universidades.

Era não só um país majoritariamente analfabeto, mas também um país onde quase a metade da população era de escravos. Este dado e o medo que essa população totalmente excluída de qualquer direito civil ou político viesse a reivindicá-los trazia certo receio ao poder. Os jornais eram vendidos a partir de subscrição, sua tiragem ficando em torno de 200 exemplares, chegando, os muitíssimo bem-sucedidos, no máximo, a 500 exemplares. Muitos jornais eram lidos nas tabernas e nas praças. Mesmo assim o público do jornal não era certamente essa população de excluídos que os próprios jornalistas preferiam não ver envolvida na luta que travavam pelos interesses do Brasil. (O NASCIMENTO DA IMPRENSA BRASILEIRA, 2003).

 

 

História do veículo O Estado de S. Paulo

O jornal O Estado de S. Paulo é o mais antigo dos jornais da cidade em circulação. No dia 04 de janeiro de 1875, circulava-se pela primeira vez “A Província de S. Paulo” – seu nome original¹. Somente em janeiro do ano de 1890, após o estabelecimento de uma nova nomenclatura para as unidades da federação pela República, receberia sua atual designação¹. Sua tiragem inicial era de 2.000 exemplares, e a população da cidade, estimada em 31 mil, de acordo com o próprio jornal O Estado de S. Paulo. ¹

O Estado de S. Paulo circulava todos os dias, exceto às segundas-feiras. Somente na década de noventa, em 1991, as edições tornaram-se diárias.²

O jornal foi fundado concretizando uma proposta de combater a monarquia e a escravidão.³

¹Fonte: (http://www.estadao.com.br/historico/resumo) Acesso em 17 de maio de 2011.

²Fonte: (http://almanaque.info/ProvinciaSP/PROVINCIASP.htm) Acesso em 20 de maio de 2011.

³Fonte: (http://www.estadao.com.br/historico/resumo) Acesso em 12 de maio de 2011.

Em sua fundação, o jornal defendia os interesses das classes que lutavam pela abolição e pela Proclamação da República. O veículo apresentava certa responsabilidade social, onde os interesses públicos eram colocados como prioridade nas edições. Com a reforma, os interesses do veículo foram mudando completamente¹.

O jornal não tinha a intenção de somente informar a população, tinha também como seu principal interesse, expandir seu público, modernizar seu conteúdo e crescer sua estrutura a partir do aumento nas vendas.¹

Após essas conquistas, os proprietários do periódico sempre estiveram envolvidos nas constantes batalhas políticas que se travaram durante a República Velha. Apoiando a campanha civilista de Rui Barbosa para a presidência, ocorreu uma aproximação ao Partido Republicano Paulista e defenderam os interesses da elite de São Paulo, que tinha no café a sua principal fonte de riquezas. Durante a década de 1920, apoiou a fundação do Partido Democrático e nos anos 1930, esteve no epicentro de vários e determinantes acontecimentos políticos do Brasil¹.

Quando o assunto é o Estadão, convém dizer que Cláudio Abramo se notabilizou por lá como repórter e como responsável pela reforma do jornal, desde os começos dos anos50. AReforma do Estado durou perto de dezoito anos e neste período Cláudio a comandou por treze. No conjunto ele foi o primeiro responsável pela transformação de um jornal provinciano e um tanto excêntrico em um órgão digno da contemporaneidade. (A REGRA DO JOGO, 2006, p.08)

Com o passar dos anos, o jornal sofreu muitas mudanças, principalmente industriais e técnicas, pois a intenção era o crescimento das vendas e a expansão do público alvo.

Cláudio assumiu o comando da redação e em meados da década de 50 já definira a estrutura básica e o ritmo do jornal. Em seguida, dedicou-se cada vez mais ao texto, ao estilo da reportagem. Depois de sua saída, o jornal sofreu mudanças sensíveis, gerenciais, industriais e técnicas, sobretudo na década de 70. Mas quem quiser comparar o Estado de hoje com aquele dos tempos de Cláudio vai notar sem grande esforço que o jornal andou para trás, embora sem sair dos trilhos. Há trinta anos era bem mais vivo e, mesmo, arrojado. Na época, estava à frente do seu tempo, podia exibir os resultados da primeira grande reforma do jornalismo brasileiro. (A REGRA DO JOGO, 2006, p.09).

¹Fonte: DUARTE, Paulo. “Julio de Mesquita e o Estado”, In: Centenário de Júlio de Mesquita. São Paulo: Anhambi, 1964, pp. 139-320.

O Estadão era um jornal com maior organização e mais sedimentado. Dava-se muita ênfase à política, mesmo porque os jornalistas da época não tinham liberdade de expressão. O conteúdo do veículo não deveria, em hipótese alguma, prejudicar os interesses do poder.

De1956 a1961 o Estado se tornou, talvez, um dos jornais mais bem-feitos do mundo, embora os editoriais fossem medievais e defendessem os interesses da classe dominante paulista em primeiro lugar e os interesses brasileiros em segundo. O Estado era (como é) antiestatal, antigetulista, antitrabalhista, anticomunista e anticlerical. O jornal era e sempre foi mais anti do que a favor de alguma coisa. (A REGRA DO JOGO, 2006, p.35)

O jornal defendia em seus editoriais, todos os privilégios da alta burguesia e da classe dominante.

O noticiário ‘O Estado de S. Paulo’ era, ou procurava ser, totalmente objetivo, cobrindo as coisas com regular equanimidade.

A reforma do Estado foi a maior reforma já feita num jornal brasileiro, porque mudou tudo e conseguiu manter, durante anos, um noticiário o mais possível “objetivo”, ao lado de editoriais absolutamente antediluvianos. Hoje o jornal é apenas uma sombra do que era. (A REGRA DO JOGO, 2006, p.36 e 37)

Apesar da sua objetividade, o jornal nunca foi neutro, sempre deixou claro qual lado ou a quem favorecia. Com o tempo, ‘O Estado de S. Paulo’ criou credibilidade, principalmente pelo fato de ter uma opinião própria que pode ser claramente vista pelo público.

A pretensão dos jornais é de serem neutros. A não ser O Estado de S. Paulo, que é engajado, os demais jornais exibem uma aparência de neutralidade. O Estado é contra a reforma agrária, contra a Igreja progressista, contra o fim da Lei de Segurança Nacional, quer o predomínio da burguesia no Congresso mas, mesmo assim, começa a entrar em choque com suas próprias concepções. É contra a Censura.(A REGRA DO JOGO, 2006, p.120)

O Exílio e a censura do Estado, ocasionados pela Ditadura

Em 1930, ‘O Estado de S. Paulo’ apoiou a revolução que levou Getúlio Vargas ao poder. Dois anos depois, em 1932, os proprietários do jornal faziam parte da liderança da Revolução Constitucionalista, que, derrotada, culminou com o primeiro exílio conhecido pela família Mesquita. Júlio de Mesquita Filho foi exilado duas vezes. Na primeira, partiu de navio em direção a Portugal com outros presos do movimento constitucionalista, de1932 a1933. Na segunda, em 1938, em seguida ao golpe do Estado Novo, partiu para a França com um grupo de correligionários e de lá para os Estados Unidos e depois para Buenos Aires, onde morou até 1943 e enfrentou todo o processo de desapropriação do jornal O Estado de S. Paulo, pertencente à sua família, do qual era diretor¹.

Após o retorno à ordem constitucional, com a Carta de 1934, o jornal lançou a candidatura de Armando de Salles de Oliveira, cunhado de Julio de Mesquita Filho, à presidência da República, em 1937¹.

Em julho, no Brasil a ditadura Vargas aperta o controle sobre o país. A Carta de 10 de novembro de 1937 estabelecia a censura prévia. Getúlio, por meio de seu interventor em São Paulo, Adhemar de Barros, decide silenciar o Estado, em 25 de março de 1940, o jornal foi ocupado pela polícia. Houve a deposição de Getúlio Vargas em 29 de outubro de 1945. Pouco depois, em dezembro, o Estado voltaria às mãos de seus legítimos donos. (CARTAS DO EXÍLIO, 2006, p. 63)

No mesmo ano, Getúlio Vargas desferiu o golpe do Estado Novo, e, no ano seguinte, novo exílio para Julio de Mesquita Filho, seu cunhado e amigos, dentre eles, Paulo Duarte. Com a queda desse regime, em 1945 e a redemocratização do país, o jornal voltou às mãos da família Mesquita que, desta data em diante, combateu qualquer tentativa de continuidade com o legado getulista. Em 1964, o jornal apoiou o golpe militar e, novamente, em virtude de desentendimentos quanto ao sentido da revolução, foi silenciado, em 1968². Com a presença de um sensor na redação, surge a idéia de publicar, no lugar das matérias cortadas ou proibidas, receitas de bolo e versos de Camões, o que evidenciava ao leitor, a atuação da ditadura na imprensa. Na década de 1970, o jornal ampliou seu campo de atuação, ao criar á “Agência Estado” e o “Estúdio Eldorado”. Em 2000, lançou o portal do “Estadão” na Internet, apontada como desafio e responsável não só pela diminuição do número de assinaturas e vendas, mas também pela crise porque passa a imprensa mundial²

¹Fonte: CARTAS DO EXÍLIO, 2006.

² Fonte: DUARTE, Paulo. “Julio de Mesquita e o Estado”, São Paulo: Anhambi, 1964, p. 139-320.

Foto: Família Mesquita durante o exílio em Buenos Aires. (CARTAS DO EXÍLIO, 2006).

 Em fevereiro de1967, a tiragem do Estado ultrapassa 340.000 exemplares.¹

Em Copenhague, no dia 3 de setembro de 1974, o jornalista Júlio de Mesquita Neto recebe em nome dos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde o prêmio Pena de Ouro da Liberdade outorgado pela Federação Internacional de Editores de Jornais, o prêmio foi dado pelo destaque do jornal na defesa da liberdade de imprensa.¹

Pena de Ouro da Liberdade. Foto feita pelos estudantes do grupo em visita à redação (18.04.2011).

¹Fonte: (http://www.estadao.com.br/historico/resumo) Acesso em 2 de maio de 2011.

No dia 12 de junho de 1976 completava-se a mudança de O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde e Agência Estado para o bairro do Limão, em São Paulo (onde a redação está localizada até os dias atuais).¹

As principais mudanças no veículo desde sua criação até os dias de hoje, ocorreram tanto na estética quando no conteúdo do jornal. O Estadão passou por inúmeras reformas e repressões do governo, como é possível perceber depois de um estudo aprofundado em sites e livros que contam um pouco da história do jornal.

O mesmo Estadão que antes era precisamente objetivo, hoje tem certa influência sobre a sociedade e por ser um jornal que com o passar dos anos criou uma grande credibilidade com o público, acaba expressando opinião em quase todo o seu conteúdo, implicitamente. É possível associar e comparar esse novo modelo do jornal com a notícia analisada sobre o novo partido PSD. Onde apenas a escolha da notícia no destaque de meia página da edição nacional, demonstra a importância que o jornal exerce perante o fato. A escolha da imagem, e o tamanho da mesma, também demonstram a intenção de noticiar o partido e apresentá-lo ao público de forma positiva. O jornal em seu início provavelmente contaria esse mesmo acontecimento de forma objetiva, talvez sem a imagem e apresentando os pontos positivos e negativos da criação do PSD.

“Façam as reportagens e escrevam, os censores que as cortem”¹. A frase ficou famosa e expõe a orientação de Julio Mesquita Neto, no Estadão, e de Ruy Mesquita, no Jornal da Tarde, nos anos 70, quando o país vivia sob um regime militar, com censores instalados nas redações de alguns jornais brasileiros.

¹Fonte: DUARTE, Paulo. “Julio de Mesquita e o Estado”, São Paulo: Anhambi, 1964, p. 139-320.

Maquete da máquina do jornal impresso ‘O Estado de S. Paulo’ que funciona até hoje. 18/04/2011.

Primeira máquina de produzir jornal impresso do Estadão. 18/04/2011.

Antigo molde do jornal. 18/04/2011.

Redação O Estado de São Paulo, atualmente, Foto tirada em 18 de abril deste ano em visita feita pelos integrantes do grupo na redação.

Esta foto da bandeira Paulista foi hasteada, em Nove de Julho de 1932, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, e ali tremulou durante todo o tempo da mobilização do povo de São Paulo para a arrancada gloriosa do Movimento Constitucionalista. Arriada, foi entregue pelos estudantes da Academia a Júlio Mesquita Filho, para que o “O ESTADO DE SÃO PAULO” a guardasse para sempre, como símbolo e testemunho da fidelidade da grei paulista à Lei e à Ordem, à Democracia e à Liberdade.

Fonte: Explicação localizada ao lado da bandeira.

Todas as fotos presentes no trabalho foram feitas pelos integrantes do grupo no dia 18 de abril de 2011.

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