Pagu

Quem foi Patrícia Galvão?

por Carol Gomes

No navio para a Bahia, década de 30. Imagem retirado do livro Paixão Pagu: A autobiografia precoce de Patrícia Galvão

“Sonhe. Tenha até pesadelos se necessário for. Mas sonhe.” Patrícia Galvão.


Patrícia Rehder Galvão nasceu dia nove de junho de 1910, em São João da Boa Vista. Defendia a participação ativa da mulher na sociedade e na política, podemos por assim dizer conservadora do movimento feminista. Foi jornalista, escritora, ativista cultural e militante comunista.

Perseguida e presa 23 vezes, sendo a primeira mulher presa no Brasil por motivos políticos.  Usou diversos pseudônimos para fazer com que suas idéias chegasse à todos, porém o que mais fez “sucesso” foi Pagu, criado por Raul Bopp.

Pode-se afirmar que ela é uma mulher do século passado, porém muito atual era sem limites, fazia coisas que para os padrões da época era julgado como avançado demais.

Musa do movimento modernista sem nem ter participado da semana de arte moderna de 22, uma mulher sempre da vanguarda.

Casou-se com Oswald de Andrade em 1930 e no mesmo ano ficou grávida de Rudá de Andrade, filho de Pagu com Oswald. Seu segundo filho nasceu em 1941 um ano após ter se casado com Geraldo Ferraz, homem este que afirma ser totalmente apaixonada.

Foi também uma das principais ativistas culturais, auxiliou a construção do teatro municipal de Santos, fundou a associação dos jornalistas profissionais, e em suas colunas incentivava sempre o teatro mundial contemporâneo, foi a primeira a fazer uma coluna sobre televisão, incentivou os grandes renovadores da linguagem e falou sobre autores desconhecidos.  E deu à volta ao mundo como jornalista, pois documentava tudo.

Foi para Paris para uma operação de câncer, mal sucedida, e após isso tenta suicídio pela segunda vez, sendo a primeira vez quando saiu da cadeia em 1940 e doente pesava apenas 44 quilos. Morre dia 12 de dezembro de 1962, em Santos.

Patrícia Galvão, como gostava de ser chamada, era uma mulher que acima dos preceitos da época queria viver intensamente sempre em busca da felicidade, e em sua autobiografia declara: “Sempre achei trágica minha vida. Absurdamente trágica. Hoje parece apenas que lhe conto que fui à quitanda comprar laranjas.” (GALVÃO, 2005, p.54).

Como nasceu o apelido de PAGU

“Pagu tem os olhos moles uns olhos de fazer doer”, assim foi descrito o olhar de Patrícia, através de um poema que o modernista Raul Bopp dedicou a ela. Por pensar que seu nome fosse Patrícia Goulart, Bopp quis brincar com as primeiras sílabas. E deste erro nasceu o apelido de “Pagu”.

Abaixo o poema dedicado a ela:

RAUL BOPP

CÔCO
(Raul Bopp)

Pagu tem os olhos moles
uns olhos de fazer doer
Bate-côco quando passa
Coração pega a bater

Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer

Passa e me puxa com os olhos
provocantissimamente
Mexe-mexe bamboleia
pra mexer com toda a gente

Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer

Toda gente fica olhando
seu corpinho de vai-e-vem
umbilical e molengo
de não-sei-o-que-é-que-tem

Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer

Quero porque te quero
Como não hei de querer?
Querzinho de ficar junto
que é bom de fazer doer

Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer

BOPP, Raul. Putirum. Rio de Janeiro: Editora Leitura, 1968.

Patrícia Jornalista

Pagu cerca de 1930. Imagem retirado do livro Paixão Pagu: A autobiografia precoce de Patrícia Galvão

Inconformista, sem limites, questionadora. Assim era Patrícia Galvão. Em uma frase retirada do livro Paixão Pagu ela afirma: “Escrever já é um desvio favorável ao esconderijo” (GALVÃO, 2005, p. 52).

 Patrícia escreveu para diversos jornais da época. Sua carreira jornalística começou em 1929 e durou até o ano de sua morte em 1962. O último texto foi publicado no jornal A Tribuna, e trazia o nome de Nothing. Abaixo um trecho das últimas palavras deste poema:

 Um papagaio falava coisas tão engraçadas. Pastorinhas entraram em meu caminho. Num samba morenamente cadenciado. Abri o meu abraço aos amigos de sempre. Poetas compareceram. Alguns escritores. Gente de teatro. Birutas no aeroporto. E nada (Nothing, 1962).

 Com 15 anos faz as primeiras colaborações no Brás Jornal, com o pseudônimo de Patsy. Após alguns anos colabora na “Revista da Antropofagia”. E em uma festa beneficente declama também poemas modernistas.

No jornal “Homem do Povo”, faz a seção “Mulher do Povo” juntamente com Oswald de Andrade. E declara: “Sem grande conhecimento de causa, atirei-me, um pouco cegamente, no trabalho do Homem do povo. A previsão de coisa grande que deveria surgir” (GALVÃO, 2005, p. 74). Neste jornal ela também cria e desenha quadrinhos.

Em, 1933 com o pseudônimo de Mara Lobo, exigido pelo partido comunista, publica o livro “Parque Industrial”, o primeiro romance proletariado do Brasil. E no final do mesmo ano começa uma viajem pelo mundo.

Nestas viagens que faz, envia reportagens para os seguintes jornais: Diário de Notícias e o Correio da Manhã, cariocas e o Diário da Noite, paulistano. Visitou: Rio, Belém, Califórnia. Japão, China, Polônia, França, Alemanha, Rússia.

Na China assistiu a coroação de Pu- Yi, o último imperador, com quem fica amiga e consegue as primeiras sementes de soja a serem plantadas no Brasil. Em Paris trabalha no jornal L’Avant-Garde.

Nessas passagens por diversos locais, ela encontra e reencontra ou até mesmo entrevista certas pessoas conhecidas como: Sigmund Freud, George Raft, Raul Roulien e Miriam Hopkins.

De volta a São Paulo em 1934 trabalha no jornal “A Plateia”. Depois somente em 1942 ela volta a trabalhar como jornalista, pois neste intervalo ela se casou com Geraldo Ferraz, com quem teve o segundo filho. Patrícia, após um ano do nascimento do filho já começa a trabalhar para os jornais cariocas “O Jornal” e “A Manhã”. Em São Paulo, com o pseudônimo de Arel, produzia crônicas.

Escreve contos policias para a revista Detective; Participa da redação do jornal “A Vanguarda Socialista”, onde publica crônicas políticas e literárias; Faz um suplemento literário juntamente com Geraldo Ferraz no jornal “Diário de São Paulo”; colabora no Jornal de São Paulo; trabalha no jornal Fanfulla; Começa uma das primeiras colunas de televisão no país no jornal “A Tribuna”, sob o pseudônimo Gim.

Em suas colunas incentivava sempre o teatro mundial contemporâneo, foi a primeira a fazer uma coluna sobre televisão, incentivava os grandes renovadores da linguagem e falava sobre autores desconhecidos em todo o mundo.

Símbolo Feminista

Pagu tinha um estilo feminista de escrever, ou seja, sempre lutou pela liberdade feminina. Pode se perceber isto melhor através do fragmento retirado da coluna “A mulher do Povo”:

“Senhoras que cospem na prostituição, mas vivem sofrendo escondidas num véu de sujeira e festinhas hipócritas e maçantes, onde organizam o hino de cornetas ligados pra todos os gozos, num coro estéril, mas barulhento” (A mulher do Povo, 1931).

Através da leitura do livro Paixão Pagu: a autobiografia precoce de Patrícia Galvão (2005) é possível conhecer melhor o cotidiano desta mulher e entender o maxisco com que ela convivia. No livro há dois episódios que marcam. O primeiro é quando por várias vezes Patrícia é desejada por seus amigos, e em certo momento Raul Bopp tenta beijá-la e afirma:”Quando você passa na rua, todos os homens te desejam. Você nunca despertará um sentimento puro”(Galvão, 2005, p.59) ela se sente muita incomodada com essa atitude.

Outro momento é quando viaja a Montevidéu e não consegue sequer pegar um táxi, tudo isso ocorre por não estar acompanhada de um homem.

É possível chegar a conclusão de que Patrícia foi uma mulher que não se apegava as coisas, primeiramente por deixar seu filho com apenas três meses de idade e ir viajar. Ela tinha seus objetivos e nada o faria parar. Isso não quer dizer que a mesma não amava seu filho, jamais, por muitas vezes ela se referia a ele, mas preferia por outras nem pensar e se “atolar” no trabalho.

Há uma música que leva seu nome “PAGU” sendo as compositoras Rita Lee e Zélia Duncan, na música é evidenciado esse jeito feminista e irreverente da jornalista, que não ligava para que os outros falassem, nesta música ela é conceituada como um símbolo da feminilidade.

 Abaixo um vídeo com a música dedicada a Patrícia Galvão:

  Se quiserem ver mais textos desta jornalista acessem: http://www.pagu.com.br/blog/pagu-jornalista/. Por falta de autorização não foi possível reproduzir seus textos neste blog.

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