Sergio de Souza

Sérgio de Souza

por Ana Paula Moreira

Sérgio de Souza nasceu em 1934, no bairro do Bom retiro em São Paulo. Filho de Yolanda e Arlindo de Souza, Sérgio dividia a atenção do pai com mais cinco irmãos.

Quando estava com 12 anos, houve a separação dos pais. Sérgio para ajudar sua mãe, começou a trabalhar como pregador de tachas em uma fabrica de bolsas e mesmo largando a escola, não teve dificuldades para aprender a ler e escrever. Nos dias de folga gostava de ir ao Cinema Marconi, no centro de São Paulo, com os irmãos, modo como aprendeu a falar e escrever inglês.

Em 1958, Sérgio dividia o seu tempo entre dois empregos, um no Banco do Brasil e outro na Folha de São Paulo como repórter. Como sempre gostou de literatura e o horário de trabalho no banco era apenas até as duas horas da tarde, conseguia conciliar os dois trabalhos.

Neste mesmo ano, Sérgio namorava com Martha, uma garota de apenas 15 anos que morava em seu bairro. O casamento acontece dois anos depois no Campo Elísios. O nascimento dos filhos vem logo em seguida, Marcelo em 1961; Márcia em 1962; Fernanda em 1963; e Eduardo em 1966.

Entre o casamento e o nascimento dos filhos, Sergio passa por revistas como Manchete, Fatos e Fotos, além de atuar como repórter no Noticias Populares até 1964, quando é convidado por Paulo Patarra para trabalhar na revista Quatro Rodas. A esta altura, Sérgio havia largado seu emprego sólido no banco para trabalhar apenas como jornalista.

Em 1968, Sérgio começa a escrever para a revista Realidade, da Editora Abril. A revista contava com grandes jornalistas da época e trazia matérias polêmicas, escritas de uma forma inovadora, inspirada no Novo Jornalismo, impactando a imprensa.

Enquanto trabalhava na revista, Sérgio reencontra Lana Nowkow, ex-secretaria da Quatro Rodas, agora estagiária da Realidade. De inicio eram amigos, Lana freqüentava a casa de Sérgio e brincava com seu filho mais velho Marcelo.

Na festa de cinco anos de Marcelo, quando Martha chegava da maternidade com Edu, seu quarto filho, Sergio anunciou a todos que estava apaixonado por Lana. Não ficaram juntos de imediato, demoraram nove meses para que Sérgio resolvesse sua situação com sua família e fosse morar com Lana e ter mais três filhos com ela.

A Realidade para de ser publicada com a instituição do AI- 5 pela ditadura militar. Sérgio e sua equipe ficaram desempregados e perplexos com a nova realidade da imprensa brasileira.

Após alguns meses a antiga equipe da Realidade é convidada a dar início a um novo projeto, Idéia Nova, tablóide semanal de circulação nacional que contava com reportagens diversificadas. Contava também com grandes nomes como Chico Buarque e Chico Anísio.

Na véspera do lançamento da revista, a censura previa entra em vigor, acabando com mais um projeto.

                                    “Não haveria mais lugar, indubitavelmente, para uma equipe cara na                                     grande imprensa, mesmo porque a imprensa toda iria se apequenar.”

                                                                                                                      Sergio de Sousa

Com o fim da Idéia Nova, Sérgio foi trabalhar em uma nova editora, União Brasileira de Editores, que publicava revistas em quadrinhos, como os do Mauricio de Souza (Mônica e Cebolinha), O Carioca e a Carametade, uma revista feminista. Por falta de verba, o projeto acaba em 1969.

Para não ficar sem trabalho, Sérgio, Naraso Kalili e Eduardo Barrelo, fundaram a agência de prestação de serviço House- organ, que logo se transforma em uma editora responsável por grandes publicações no cenário alternativo.

Lançam a Revista Fotografia, que reunia os melhores fotógrafos da época; O Bondinho, um editorial distribuído na rede de Supermercados “Pão de Açúcar”; o Jornalivro, que reunia obras literárias de grandes escritores como Graciliano Ramos e Machado de Assis, por 2 reais em formato de tablóide e O Grilo, HQ produzido por escritores americanos como Mark Schulz, Parker entre outros.

No entanto, a editora acaba falindo e O Bondinho para de ser publicados. O Jornalivro continuou sendo publicado com certa dificuldade, enquanto O Grilo sofreu algumas alterações para conseguir mais leitores. Mudanças dispensáveis, pois algumas semanas depois a revista é submetida à censura, colocando fim em sua circulação.

Mesmo com todas as dificuldades, Sérgio não desiste de seu projeto e cria o Ex-, publicação referente ao O Grilo, que contava com artigos jornalísticos e historia em quadrinhos que eram cedidos por amigos. As capas eram inovadoras, onde figuras ilustres como o ex- presidente Nixon, sofria modificações fotográficas em tom humorístico.

Em sua segunda publicação, a Policia Federal aprende todos os exemplares da revista, sob a acusação de “ofensa ao presidente de uma nação amiga”, além de deter Sérgio por dois dias para dar explicações e preso por 3 horas em uma cela especial.

Após o episódio, Sergio continuou a escrever o Ex- e dar aulas na faculdade de jornalismo do colégio Objetivo, na Av. Paulista, porém foi diagnosticado em depressão e agorafobia, medo de lugares públicos.

                                   “Foi um período difícil. Até que veio o convite do Zé Hamilton Ribeiro, convidando-o para trabalhar num jornal diário em Ribeirão Preto (…)”

                                                                                                                                  Lana Nowkow

Sergio, Lana e seus filhos se mudaram para Ribeirão Preto, no interior paulista. Sergio vai trabalhar novamente como editor no O Diário, onde o seu amigo José Hamilton Ribeiro era chefe de reportagem.

Não passa muito tempo, pedem demissão por não concordarem com as idéias do dono do jornal, Marcelo Romano.

Surgiram então projetos como O Domingão e o Aqui e Agora, ambos de grande importância, mas que pararam de ser publicados por falta de anunciantes.

Sergio e sua família retornam para São Paulo, onde passou por diversas publicações e programas televisivos. Entre eles se destacam a extinta rede de televisão Tupi, o programa Fantástico na Rede Globo, onde trabalhou como diretor chefe e o 90 Minutos na Rede Bandeirantes. Escreveu também para o tablóide de música Canja, e as revista Placar e Globo Rural.

Sergio tinha o projeto de criar um novo veiculo, jornalismo independente, com um conteúdo crítico e inovador.

Junto com Juca Kfouri, Alberto Dines, Roberto Freire, Adriana Cury, José Trajano, e tantos outros jornalistas e publicitários de importância, lançou a revista Caros Amigo, em 1997.

Teve grande circulação, porém faltava anunciantes e assinaturas. Em Abril de 1997, Wagner Nabuco, ex- diretor de marketing da Veja é convidado para ser sócio na revista.

Com a nova aliança, a revista cresceu e ganhou espaço e a colaboração de jornalistas renomados, virando referência na imprensa alternativa brasileira.

Em 14 anos de publicação, a revista Caros Amigos se destaca por suas edições especiais como MST, lançado em 2000, relatando com é a vida no acampamento e a historia do movimento; E entrevistas de destaque como A Fúria de Mano Brown.

                                   “Encontrei Mano Brown três vezes em dezembro. Na garagem da casa dele, onde      fiz a entrevista, no estúdio de cinema e no Carandiru, uma semana depois dele perder  mais um amigo do bairro assassinado. Esperei quatro longas semanas para conhecê- lo. Tem gente que nunca consegue. Ele deixa claro o seu desprezo pela mídia. Nunca precisou dela, não vai ser agora…”

(trecho da reportagem A Fúria de Mano Brown,  Sérgio Kalili  1998)

Durante 11 anos Sérgio de Souza foi o editor chefe da revista; seus amigos o descrevem como alguém de caráter, simples, amável e duro quando necessário, assim como todo bom editor deve ser.

Faleceu com 73 anos, no dia 25 de março de 2008. Desde o dia 7 de março Sérgio vinha sentindo dores, causada por uma ulcera no duodeno; foi informado que estava perfurado e era preciso fazer uma cirurgia. Ocorreu tudo bem, porém na noite da quarta feira piorou.

Serjão deixou seus sete filhos e sua esposa Lana. Deixou também um grande legado para historia do jornalismo brasileiro, principalmente para a imprensa alternativa, que tem muito a agradecer por suas criações e persistência; sua reportagens e genialidade e edições memoráveis.

Fontes de Pesquisa: 

Revista Caros Amigos, Especial Sergio de Souza , IX 27 Edição Abril de 2006

Revista Caros Amigos, Grandes Entrevistas, XII 41 Edição Maio de 2008

www. folha.oul.com.br

www.carosamigos.terra.com.br

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