3ª Parte

Analise da peça “A Bela Madame Vargas”

A peça “A Bela Madame Vargas” foi o ápice de sua carreira teatral, no entanto ao pedir ajuda para Eduardo Vitorino, este o aconselhou a mudar o final da peça, escrita como drama, para uma comédia o que segundo o escritor R. Magalhães Junior “não poderia deixar de ser de certo modo decepcionante para a platéia”, já que, “de forma alguma poderia comportar um final pacifico”.

Com base na analise da peça é de fato compreensível a decepção com uma narrativa construída de maneira rápida e nervosa que acumula um sentimento de ansiedade no público e ao final simplesmente não corresponde as expectativa, já que após tantas ameaças feitas pelos personagens não chegamos a conhecer o desfecho de seus planos.

As características da escrita de João do Rio estão presentes também nessa obra, em que pode ser identificado o uso das frases longas:

Belfort – É que ela o julga por demais grave. Que vê o José aqui, em redor do seu amor? Senhoras, meninas, rapazes, a rir e a fletar. Parecem-lhe inofensivos? São perigosíssimos, feitos de desrespeito, de invejas, de egoísmos. É uma sociedade que se forma de aluvião em torno do dinheiro, – que a maioria tem por hipótese. Há gente rica hoje e amanhã sem real continuando a viver como quem tem dinheiro; há damas que caçam o amante como quem caça borboletas e meninas que caçam maridos como quem caça a raposa. Os rapazes, alguns parecem milionários, numa idade em que poderiam jogar a pelota, e outros não tem profissão no momento em que e preciso trabalhar.[1]  

O uso excessivo de pontuação proveniente da paixão nouveau pelo inusitado que tinha o autor e decidiu transferir isso para o texto(RODRIGUES, 2010 p. 12), como é identificável em quase todos os trechos da peça como, por exemplo, este:

José – Não sou como os outros, barão. Há muito tempo guardava em segredo o meu amor. Só depois de pensar muito, declarei-me. E quando pedi a mão de Hortência, ela estava comovida; o seu olhar foi tão profundo, que nunca mais esquecerei esse instante imenso.

Também a descrição detalhada de ambientes, cores e aromas:

O esplêndido terraço da vila de Mme. Vargas. Á direita, avançando sobre o terraço entre grinaldas de rosas e trepadeiras floridas, a fachada da linda casa, com varanda e escadaria. Para essa varanda dão a larga janela e a porta do salão de música. No fundo balaustrada de mármore. Do terraço domina-se um maravilhoso panorama de florestas, deslizando para a baía em baixo, ao fundo. Em baixo os jardins do palacete.

E o uso de palavras estrangeiras, principalmente de origem francesa identificado nesta obra em particular como representam as frases a seguir:

Antônio – A idéia de tomarem chá no terraço c’est três bien.

Braz – Pois sim. Desde que te dêem ares e haja palavras estrangeiras, ficas satisfeito. Eu é que não. Estou aqui, estou a deixar isto. Olha que é trabalho. Chá no salão, chá nos quartos, chá no terraço, chá em toda a parte, chá a toda hora…

Antônio – C’est très bien. As casas assim, ainda não são as melhores. De repente vem o dinheiro. Olha, eu enquanto houver tapetes, música, chá, comedorias – vou esperando. Ça me vá. Nasci para o luxo.

Outra característica apresentada que pode ser identificada nas falas acima é a critica social, ao esbanjamento da burguesia na época em decadência que vivia das aparências.

Braz – Mas de dinheiro, nem cheta. Preferia menos chá e mais massa. Tu a olhar-me com esses modos superiores. Não sou eu só. Na copa todos se queixam.

Por fim, faz-se também uma critica a política da época sendo representada pelo personagem Deputado Guedes

Deputado Guedes — Os senhores esquecem que eu sou apenas candidato ao reconhecimento.

Gastão – Mas foi eleito?

Deputado Guedes – – A eleição é uma formalidade sem importância.

Gastão – Está enganado. No meu club e definitiva.

Belfort – Mas no club da política depende do banqueiro

Esta analise foi feita com base na leitura da peça escrita por João do Rio, usou-se como base as características previamente identificadas e sustentadas pelo autor do livro “João do Rio Vida Paixão e Obra”, João Carlos Rodrigues. Os trechos escolhidos para a exemplificação são de responsabilidade da autora Alissa Paschen

 


 

[1] Trecho da peça “A Bela Madame Vargas”, texto disponível para download no site http://www.LivrosGgratis.net


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