Entrevista com Brito Jr.

Devido a sua credibilidade alcançada como jornalista Hilton Antonio Mendonça Britto Junior respondeu por e-mail algumas perguntas sobre o perfil do jornalista. Na entrevista ele diz que ser ético é a característica mais importante para o jornalista. “A opinião e a imparcialidade do jornalista não pode ser negociada. Ele tem que atuar com frieza e honestidade, criticar o que e quem tem que ser criticados”, disse o entrevistado. Britto Junior ainda falou sobre a influência da internet no trabalho do jornalista e a influência que a profissão traz no cenário político.

Atualmente trabalhando na área do entretenimento no reality show A Fazenda, Britto Junior, 48, começou sua carreira bem cedo. Com apenas 16 anos já era repórter esportivo da Rádio Independência. Ele entrou na RBS TV Caxias em 1981 e era repórter esportivo de manhã e repórter geral á tarde, editava textos e imagens e ainda atuava como apresentador de vários telejornais. Trabalhou também para Rede Globo e SBT, atualmente está na Rede Record.

Leia abaixo a entrevista na integra:

Pensando no perfil do jornalista do inicio do século passado, o que você acha que ainda persiste no perfil atual da profissão? 

Reposta: Muitos, mas não todos, ainda perseguem o furo, dar a notícia antes dos outros. Mas, a maioria só replica o que outros deram primeiro. E também existe, ainda, uma certa preocupação com a qualidade do texto. De resto, os jornalistas de hoje são muito diferentes, até porque a tecnologia é muito melhor e a velocidade dos fatos e da repercussão não permite muitos momentos de “pensata”. Digamos que, hoje, com tanta ferramenta pra alimentar e tantos veículos diferentes, o jornalista é um profissional quem tem pressa, muita pressa. Se não for assim, será atropelado pelas notícias em profusão. No passado, um fato só virava notícia no outro dia, quando aparecia estampado nos jornais. Demorava e dava tempo para aprofundar e repercutir. Isso ficou no passado.

 No passado via-se o jornalista como figura importante no cenário político. E hoje, em que cenário a participação jornalística mais se destaca?

Resposta: Jornalistas continuam sendo figuras importantes no cenário político, ainda hoje. São eles que repercutem os acontecimentos políticos. A imprensa é o quarto poder, com peso de primeiro. Se um fato não tem divulgação, não ganha importância. Tem que estar na mídia para sobreviver. E quem decide o que e quanto vai ocupar de espaço na mídia é o jornalista. Mas, na minha opinião, existe um vicio grave entre grande parte dos profissionais, que é o de se relacionar além do eticamente recomendável com determinadas pessoas, instituições e poderes. Eu sou da escola que não faz questão de dividir baladas, jantares e o que quer que seja com quem está no meio daquilo que se cobre jornalisticamente. É preciso ter isenção. Isso não significa que o jornalista precisa ser deselegante ou inimigo das pessoas públicas, mas é preciso estabelecer limites, o que não vem sendo muito considerado hoje em dia.

Qual é o tipo de postura pessoal e profissional que um jornalista, teoricamente, deve ter? Quais as diferenças de perfis entre profissionais de rádio, impresso e TV?

Resposta: A primeira e decisiva palavra no dicionário de um jornalista é ÉTICA. A opinião e a imparcialidade do jornalista não podem ser negociadas. Ele tem que atuar com frieza e honestidade, criticar o que e quem tem que ser criticados. A postura de todos os jornalistas, seja qual for o meio, tem que ser a mesma. Reclama-se, e com razão, de que o Brasil tem um povo sem cultura, que não sabe decidir, não tem consciência do seu poder. Então, imagine se a gente não tivesse uma imprensa tão atuante, que denuncia e critica. Ai, sim, estaríamos perdidos. A imprensa é a única instituição que fiscaliza o país e provoca mudanças.

Com o avanço das mídias virtuais, há cada vez mais jornalistas adeptos aos blogs. Em sua opinião, isso afeta a questão da imparcialidade? Até que ponto um jornalista pode expressar suas ideias?

Resposta: Não podemos ser ingênuos. É claro que uma empresa de comunicação depende de anunciantes e isso é um ponto frágil da imprensa, porque quem manda é o dono do veículo e ponto final. Mas, em praticamente 100 por cento do tempo, dos textos e das decisões, é a figura do jornalista quem decide, sem nenhuma interferência de seus superiores. O blog é ótima ferramenta na busca da imparcialidade total. Só que ainda é pouca gente que nutre o hábito de recorrer aos blogs. Nada se compara ao poder da tv, por exemplo, que chega em todos os lugares. A internet mostrou o caminho, é uma questão de tempo para as pessoas mudarem o hábito.

Com o processo de globalização à tona, a agilidade da divulgação é enorme. Partindo desse ponto, o jornalista estaria tratando as notícias de forma apenas superficial?

Resposta: Nunca tivemos tantos instrumentos, tecnologia para realizar coberturas jornalísticas quanto hoje. A internet tornou a velocidade da notícia tão grande que  isso acabou gerando um problema, digamos assim, um efeito colateral: a superficialidade, a miniaturização das idéias. O que vale é a imagem, depois a manchete e o texto não pode exigir muita concentração do internauta. Temos que descobrir um jeito de resistir ‘as tentações de superficialidade e, o pior, de sensacionalismo explicito. Vejo tanta manchete que não bate com a notícia por ai, que me arrepio. Até eu, que sou figura pública, já fui vitima disso.

Quais as principais características exigidas para o perfil jornalístico atual? A não obrigatoriedade do diploma interfere nisso?

Resposta: Estudar é sempre bom. Mas ter ou não ter diploma não tem que ser tão decisivo assim. As empresas de comunicação devem  adotar critérios mais amplos para avaliar ao emprego na área jornalística. Muitas vezes, um talento é desperdiçado só porque não tem formação acadêmica. A empresa tem que entender que ela própria deve ter este papel, de formar bons profissionais. Eu não conheço nenhum jornalista que tenha chegado da faculdade sabendo o suficiente para trabalhar como repórter ou em outra função. Agora, se você tem diploma e talento, leva vantagem sobre a concorrência.

Qual a sua opinião sobre a não obrigatoriedade do diploma para exercer a profissão? Participou das campanhas de 86/87 para essa obrigatoriedade?

Resposta: Não sou a favor da obrigatoriedade do diploma. Não para jornalistas. Já expliquei os motivos anteriormente. Agora, o que o mercado necessita é de boas escolas técnicas para formar profissionais especializados. Na minha função, por exemplo, não conheço muitos cursos que formem apresentadores de reality show. Aliás, fica a sugestão. Estamos todos fazendo e aprendendo. Isso também vale para apresentação de programas de auditório, revistas eletrônicas, games e etc… Se alguém quiser criar um curso profissionalizante, por favor, me convidem para ser aluno. Mas, se precisarem de alguém que também ensine até aceito dar umas aulas.

 As novas tecnologias permitem ao jornalista do século XXI maior dinamismo. Quais outras competências ele deve adquirir para se sobressair?

Resposta: Não existe limite para ser um bom profissional. Tudo o que ele puder aprender, desde o uso da informática até pilotar um avião, vai torná-lo melhor. Talvez a maioria destes conhecimentos nunca seja requisitada, mas mal não vai fazer. Certo? Quem de nós pode dizer que sabe tudo?

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