Parte 3

Parte 3

Como já foi dito, no final do século XIX, os jornais estavam atrasados na utilização da fotografia. Somente no início do século XX, a mídia impressa passou a ilustrar suas páginas com imagens fotográficas. A partir desse momento, com o aumento da procura da fotografia pela imprensa, aumentou-se o número de fotojornalistas. Mas isso, ainda não significava o reconhecimento total e definitivo da profissão, pois existia a idéia de que o fotojornalismo servia apenas como ilustração. O que, para Pedro Souza, denunciava a falta de cultura fotográfica e revelava o desconhecimento sobre as virtualidades informativas, interpretativas e contextualizadoras do fotojornalismo.

A Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918) produziu um enorme fluxo de fotografias, o que permitiu aos grandes jornais formar equipes próprias de profissionais. Porém, durante o conflito, em muitos momentos, a fotografia serviu à manipulação e à propaganda, com o objetivo de controlar a população por meio do direcionamento do olhar. Foi nesse período, por exemplo, que a França criou o Serviço Fotográfico do Exército que registrava e controlava a disseminação das imagens dos campos de batalha. Após a Guerra, com o surgimento de revistas ilustradas e das agências fotográficas independentes, a forma como texto e imagem passaram a se articular permitiu que trabalho fotojornalístico fosse visto, sobretudo na Alemanha, com propriedade.
Em meados da década de 20, pode-se citar o surgimento de alguns fatores como determinantes para o desenvolvimento do fotojornalismo moderno: a aparição de novos flashes e a comercialização das câmeras 35mm; o aumento de interesse dos foto-repórteres; a atitude experimental e de colaboração intensa entre fotojornalistas, editores e proprietários das revistas ilustradas para promover o aparecimento e a difusão da candid photography – tendo como progenitor Erich Salomon, trata-se da fotografia não posada, não protocolar, de certa forma, natural e reveladora. Assim, pela primeira vez, privilegiava-se a imagem em detrimento do texto.

Erich Salomon e a primeira "candid" câmera. (Retirado em: http://photo.net/classic-cameras-forum/00QJ7R)

1923-1936 - A série Leica A introduziu pequenas câmeras fotográficas portáteis com filme 35 mm, que forneciam imagens de alta qualidade para fotógrafos profissionais.

Porém, a ascensão de Hitler ao poder provocou um colapso no fotojornalismo alemão, pois muitos profissionais de oposição fugiram do país para não serem presos. Em contraposição, tal fator foi essencial por permitir a difusão das concepções do fotojornalismo da Alemanha em outros países.

No final dos anos 20, uma série de novas conquistas técnicas fez com que o fotojornalismo se consagrasse: o aparecimento do sistema reflex de duas objetivas, em 1929; o surgimento do sistema reflex de uma única objetiva, em 1933, que permitia enquadramentos mais exatos, facilitava a focagem e permitia ao fotógrafo maior concentração no tema; obtenção do filme se sensibilidade ISO 100, em 1936, pela Agfa.

Com o reconhecimento e a honorabilidade do fotojornalismo, veículos de imprensa aproveitaram as fotografias para modificar e melhorar o aspecto gráfico do material publicado, o que obrigou os profissionais a refletirem suas produções, tornando comum o trabalho de sequências fotográficas, foto-reportagens e foto-ensaios.

Henry Cartier-Bresson foi um dos fotógrafos inovadores da década de 30. Fundador da Agência Magnun, juntamente com outros fotógrafos, Bresson se tornou um dos exemplos mais perfeitos da aliança entre a arte e o elemento informativo imagético, por conseguir eternizar numa fotografia os instantes em que a representação da vida se condensava. Seu olhar fotográfico revelava a responsabilidade de um fotógrafo consciente em relação à influência que suas imagens poderiam adquirir. Outro grande fotógrafo desta época foi David Douglas Duncan, profissional de guerra que começou a carreira de forma inesperada ao fotografar, acidentalmente, um famoso gangster.

Em 1928, o francês Lucien Vogel criou a Revista Vu que se baseiou na inter-relação de complementaridade entre fotografia e texto, ambos de extrema qualidade.

Uma das capas da Revista Vu

Porém, por volta de 1936, Voguel foi obrigado a se demitir devido a publicações esquerdistas (contrárias às ideologias dos patrocinadores da revista), como a da célebre fotografia de Robert Capa, Morte de um soldado republicano. Esta imagem, que retrata a Guerra Civil Espanhola (1936 a 1939), marcou o fotojornalismo de guerra e consagrou a máxima de que se a fotografia não é boa, é porque o fotógrafo não estava suficientemente perto.

Nesse período, o fotojornalismo se firmou como vetor integrante da imprensa moderna. Na Europa, enquanto o foto-ensaio enveredava pelas revistas ilustradas, nos EUA foi, principalmente, os jornais diários que proporcionaram importantes mudanças para o futuro da atividade.

Deixe um comentário